UEL desenvolve pesquisa inédita na área de Odontologia

2016-03-28

O estudo desenvolveu o Aplicativo Odontolibras que pode ser usado em celulares e tablets, auxiliando o cirurgião-dentista no atendimento e tratamento do paciente surdo.

O programa de Mestrado em Odontologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL) pode entrar para a história com uma pesquisa inédita sobre “O uso de tecnologias móveis no tratamento odontológico para comunicação com o paciente surdo”, de autoria da estudante Valéria Lima Avelar, sob orientação da professora Maria Celeste Morita, do Departamento de Medicina Oral e Odontologia Infantil da Clínica Odontológica (COU). 

A dissertação de mestrado que foi defendida em fevereiro deste ano contou com orientação das professoras Elisa Emi Tanaka Carloto e Maura Sassahara Higasi. A pesquisa desenvolveu o Aplicativo Odontolibras que pode ser usado em celulares e tablets, auxiliando o cirurgião-dentista no atendimento e tratamento do paciente surdo. Segundo a professora Maria Celeste, o projeto de desenvolvimento do protótipo exigiu uma atuação conjunta dos departamentos de Odontologia, Ciências da Computação, Design Gráfico e Letras. 

A ideia da pesquisa e do desenvolvimento do aplicativo partiu da professora Maria Celeste que propôs o projeto a sua orientanda Valéria Avelar “Aceitei o desafio e tivemos que partir do zero já que não existe bibliografia na área e nenhuma experiência semelhante que pudesse ser usada como ponto de partida”, comenta a estudante. Durante a pesquisa, o aplicativo Odontolibras foi testado em pacientes surdos e funcionou muito bem. Agora é preciso investimentos para que ele seja aprimorado e disseminado para outras universidades. “Nosso objetivo é ver esse aplicativo sendo utilizado nos 219 cursos de Odontologia existentes no Brasil”, destaca a professora Maria Celeste. “O pontapé inicial já foi dado, o aplicativo já existe e foi testado com sucesso”, acrescenta Maria Celeste. 

Segundo Valéria Avelar, o aplicativo não substitui totalmente o intérprete de Libras durante o tratamento odontológico, mas proporciona mais independência entre paciente e o cirurgião-dentista. “Geralmente a consulta entre o profissional de saúde e o paciente requer uma certa privacidade e depender totalmente de uma terceira pessoa é muito desconfortável”, explica. 

Ela observa que, futuramente, esse aplicativo poderá ser estendido para outras áreas de saúde como medicina, fisioterapia e psicologia. “Imagina o constrangimento de uma paciente surda que vai ao ginecologista e dependente totalmente de um intérprete. E quando a consulta é com um psiquiatra ou psicólogo? Essas limitações fazem com que muitos surdos deixem de procurar esse tipo de tratamento que pode ser extrema necessidade para eles”, observa Valéria Lima. 

A professora Maria Celeste reforça a observação da estudante lembrando o caso de uma paciente surda que foi atendida no pronto-socorro odontológico da COU. “O atendimento foi à base de mímica e ela não entendeu que precisava retornar à Clínica para continuar o tratamento. Essa dificuldade faz com que muitos surdos só procurem o dentista quando sentem dor, mas dificilmente para uma prevenção de saúde bucal”. 

Ela ressalta que o mesmo deve ocorrer em outras áreas da saúde. “Portanto, é nosso dever se preocupar com isso e procurar formas de incluir essas pessoas em uma área de extrema importância que é a saúde. Essa questão sempre me incomodou muito e foi então que propus esse tema à minha orientanda e ela topou o desafio. O resultado foi muito gratificante porque agora temos algo concreto, cuja usabilidade foi muito bem aceita pelos pacientes surdos na fase de testes”, diz Maria Celeste. 

Valéria Lima lembra que a pesquisa exigiu que ela entrasse no universo dos surdos, aprendesse o significado de cada sinal da Linguagem de Libras. “A maior parte dos termos odontológicos como tratamento de canal, extração de dentes, periodontia, profilaxia, implante, cárie, etc. não existem na linguagem dos sinais, então foi preciso criar todos esses termos e para isso contamos com a ajuda de uma intérprete e de um professor de Libras que é surdo. Eles participaram da pesquisa voluntariamente”, explica Valéria. Vale destacar que existem cerca de 5 mil termos na linguagem da Odontologia. 

Segundo a estudante, foram realizadas oficinas nas quais participaram professores de Odontologia, a intérprete e o professor surdo. “A gente explicava para a intérprete o nome e para que servia cada instrumento odontológico e ela passava para o surdo que ia criando os sinais, o mesmo ocorreu com os termos odontológicos mais utilizados durante o tratamento”, esclarece. Todas as oficinas foram registradas em vídeo e fazem parte do processo metodológico da pesquisa. 

O próximo passo foi o desenvolvimento do aplicativo que contou com uma equipe formada por professores de Ciências da Computação, Design Gráfico e Letras. Mais uma vez todos contribuíram voluntariamente para o desenvolvimento do aplicativo Odontolibras. “As imagens que aparecem no aplicativo foram criadas especificamente para a pesquisa, ou seja, não foram utilizados avatares e nem bancos de imagens. Não usamos avatares porque a Libras depende muito da expressão facial que só um humano pode fazer”, observa a orientadora. 

Como funciona o Odontolibras? 

Não é tarefa fácil traduzir em palavras uma ferramenta essencialmente visual. Imaginem a tela de um celular, na parte de cima aparece a imagem de uma extração de dente, na parte de baixo, o professor Antônio Aparecido de Almeida, que é surdo e ministra aulas de Libras na UEL, traduz para a linguagem dos surdos o que a imagem mostra. Com um toque na tela o paciente diz para o dentista se entendeu ou não o procedimento. E desta forma novas telas vão surgindo. 

O aplicativo é composto de quatro etapas. 1.ª) Acolhimento do paciente que consiste no primeiro contato entre dentista e paciente, por exemplo, “Bom dia, como vai?, entre, sente na cadeira”. 2.ª) Anamnese que consiste na entrevista (consulta) realizada pelo cirurgião-dentista, 3.ª) Prevenção, na qual o profissional vai orientar o paciente como prevenir doenças bucais e, 4.ª) Tratamento, na qual o dentista vai explicar ao paciente todas as fases do tratamento. 

É importante ressaltar que as imagens não são estáticas. Elas possuem movimentos que ilustram em detalhes o procedimento ao qual o paciente será submetido. É como se o paciente assistisse a um vídeo narrado na linguagem dos sinais. Com isso, a participação de uma terceira pessoa (intérprete) só é necessária em casos bem específicos, dando mais privacidade e independência na relação entre o profissional e o paciente. 

  • Fonte: Assessoria de Imprensa

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